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terça-feira, 26 de junho de 2012

Um golpe do Paraguai


O Paraguai é um país conhecido pela facilidade de se contrabandear produtos para fora de lá. O paraíso do produtos falsificados. Nada mais impressionante que ocorra lá um golpe tão falso quanto seus produtos. O que aconteceu no Paraguai é a tragédia mais antiga da história da humanidade, em que quem tem dinheiro e influência política consegue o que quer e os pobres que lutam por mínimas condições de sobrevivência são chamados de criminosos e levam tiro da polícia.

Para entender é preciso conhecer alguns agentes dessa trama, como a multinacional Monsanto, os grandes latifundiários, os grupos sem terra e os membros do governo de Fernando Lugo.

O governo Lugo era um governo fraco, facilmente dominado pela extrema direita do país. Sofria duras criticas da mídia, principalmente do ABC Color, que, aliado dos grandes latifundiários e das multinacionais, criticava a posição do presidente contrária à produção de um tipo de algodão transgênico. A conspiração podia ser vista dentro do próprio ministério do governo. Quando a SENAVE não liberou a semente, por falta do parecer do Ministério da Saúde e da Secretaria do Meio Ambiente, como exige a legislação, o ministro da agricultura e pecuária, o liberal Enzo Cardoso, liberou ilegalmente seu uso em 21 de outubro de 2011 e ainda fez duras criticas à Senave.

A multinacional Monsanto é a detentora da patente das sementes de algodão transgênicas. Essa empresa faturou em 2001 30 milhões de dólares livres de impostos somente em royalties pelo uso das sementes. No Paraguai as transnacionais do agronegócio não pagam impostos e nem os latifundiários. Isso porque o congresso está dominado pela direita. A Monsanto age através da UGP, União de Grêmios de Produção, e é ligada ao jornal ABC Color.

A desigualdade social no Paraguai é gritante. Praticamente 85% das terras produtivas estão nas mãos de 2% da população, usadas para produzir para o mercado externo ou para fins especulativos. O caso mais recente de conflito por terra, e um dos fatores da saída de Lugo, ocorreu na fazenda Morombi em Curuguaty. O dono dessa fazenda, de 70 mil hectares, é Blas Riquelme que enriqueceu durante a ditadura de Stroessner (1954-1989) e depois se aliou ao general André Rodriguez, que deu um golpe de estado em Stroessner. Uma pessoa com bastante experiência em se aliar a ditadores para dar golpes. Valendo-se de seus vários contatos políticos e subterfúgios legais, ele tomou posse de 2 mil hectares pertencentes ao Estado paraguaio.

Essa parcela de terras foi ocupada por camponeses que exigiam sua distribuição. Preste atenção porque aqui é difícil perceber quem é o ladrão. De um lado um rico latifundiário tomou posse de terras do Estado de maneira corrupta para usá-la para fins especulativos; de outro, um grupo de sem terras invadiu a propriedade para que ela fosse distribuída e usada para produzir alimentos para a população. Eu sei que é difícil ver o ladrão, mas leve o tempo que precisar para pensar sobre isso.

Um juiz e uma promotora ordenaram o despejo dos camponeses e o Grupo Especial de Operações, policiais treinados para combater grupos altamente perigosos do narcotráfico, foi mobilizado para executar a ordem. Agora o que aconteceu a seguir é o mais intrigante. Como um grupo treinado sofreu uma emboscada de um grupo de agricultores sem terras e teve seis policiais mortos? Dos agricultores 11 foram mortos e 50 feridos. A mídia explorou ao máximo os seis policias mortos para criminalizar os ocupantes e gerar o ódio público às organizações campesinas. E podem ficar tranquilos porque isso nunca aconteceria aqui no Brasil, uma democracia de verdade.



































O governo, a justiça e a mídia estão todos casados com os grandes capitalistas que querem manter a antiga ordem social na qual dinheiro fala mais do que direitos. O caso Curuguaty serviu para derrubar ministros do governo Lugo e colocar membros do partido Colorado, de direita, no seu lugar. O novo ministro da justiça, Rubén Candia Amarilla, conhecido por medidas contra os camponeses quando era procurador geral, como primeira ação disse que não haverá mais diálogos com os camponeses. Para que conversar, pessoas lutando por seus direitos merecem é mais pancada da polícia. Direito de pobre é ficar calado.

Lugo continuou no poder enquanto se mostrava favorável. Ele foi responsável pela aprovação da lei anti-terrorista, patrocinada pelos EUA, que permitiu a movimentação de tropas pelo território paraguaio, principalmente nas proximidades da fronteira brasileira. Vimos no último artigo como os americanos estão aumentando sua presença militar na região. O massacre em Curuguaty também foi uma mensagem à região, principalmente ao Brasil, pela proximidade com a nossa fronteira.

Contudo, a principal mensagem dessa tragédia é a superioridade do poder do dinheiro. Por todo o mundo lutas sociais estão insurgindo, mas enquanto o governo e a justiça estiverem controlados pelos grandes donos de capitais e a população passiva porque é manipulada pelos meios de comunicação tradicionais, esses acontecimentos ainda serão constantes.

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