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domingo, 29 de julho de 2012

"Estou me lixando para a opinião pública"


Não sei se todos vocês lembram, porque a memória do brasileiro é muito curta mesmo, mas em 2009 o então deputado federal Sérgio Moraes soltou essa afirmação ao ser questionado por reportes: estou me lixando para a opinião pública. E claro grandes fontes sempre defensoras da "opinião pública" - como a Rede Bobo, a Não Veja e outras - caíram em cima desse comentário como um ultraje, um insulto ao eleitor. Vamos ver o que realmente é essa "opinião pública" ou também chamado de "povo" e com isso tentar entender o que aconteceu com o sonho de democracia.





Durante muito tempo da história humana a grande maioria da população, vamos aqui chamá-la de "povo", foi liderada pela minoria, que se dizia nesse direito por nascimento, vontade divina ou ambos. Deixando de lado a aclamação emocional de que foi um período de repressão, no qual déspotas regiam autoritariamente reprimindo o povo, imagem esta criada com as revoluções burguesas, porque assim como os humanistas do Renascimento passaram a ideia de que o período medieval foi uma Era das Trevas, os revolucionários iluministas passaram a ideia de que o período do realismo foi uma era maligna. Tal sistema, aristocracia, na sua definição clássica "governo dos virtuosos", foi defendida por vários filósofos expoentes como Aristoteles, Platão e Maquiavel em sua obra O Príncipe definindo os homens de virtú.

E antes que as pedras comecem a ser atiradas sobre mim eu não estou aqui defendendo o antigo regime com sua rígida estrutura social definida pelo nascimento, mas vamos pensar o que acontece hoje, no mundo do "politicamente correto". Se uma pessoa nasce em uma família mais rica ele terá sim uma vantagem sobre aquela que nasceu em uma família menos favorecida, receberá melhor educação, passará menos adversidades. O mundo de hoje, pós revoluções populares, condena esse tipo de pessoa, como se fosse um crime e uma ofensa nascer rico. É já um senso comum que todos são igualmente capazes, mas vamos derrubar essa máscara porque não, elas não são. Fora todas as características geneticamente determinadas que nos diferenciam bastante uns dos outros, as condições sob as quais você nasceu e vive restringem o que você é capaz de conquistar. Eu sei, é injusto, o mundo é injusto, a zebra mais lenta vira comida do leão, acostume-se com isso.

Os séculos XVIII e XIX foram marcados pela insurreição das revoluções para acabar com os resquícios da antiga ordem social. Tomemos o maior exemplo desse período, a Revolução Francesa. Nessa revolução "o povo" percebeu, finalmente, que eles estavam em maior número e que podiam sair às ruas e quebrar as coisas se não estivessem satisfeitos com seu governo. A burguesia percebeu outra coisa, que tinha uma grande arma ali, se pudesse controlar aquela numerosa massa eles poderiam fazer o que quisesse. E aquela enorme massa estava ansiosa por alguém para controlá-la, porque afinal, além de quebrar as coisas, eles não tinham a mínima ideia do que fazer depois. A burguesia tinha um plano, fazer uma constituição, controlar as classes mais altas, conquistar seus interesses e jogar as sobras para o povo para deixá-los felizes. Isso pode resumir todas as revoluções, como disse George Orwell no livro 1984, a sociedade dividida em três classes, a classe média anseia por mais poder, une-se com a classe mais baixa, derruba a classe alta e todos ficam felizes, até que naturalmente as classes começam a se diferenciar novamente e o ciclo recomeça.

Só pense nos movimentos aqui no Brasil mesmo, os grandes nessas últimas décadas, Diretas Já e impeachment de Collor. O país passou 21 anos sob governo ditatorial, houve resistência sim, mas a reunião de milhões de pessoas sob um mesmo interesse foi levada até lá, guiada, controlada; como também foram os caras pintada, sim, depois de anos sem eleições nosso primeiro presidente "democraticamente" eleito é tirado do cargo. Viva a democracia!

Hoje a democracia se tornou uma ditadura da maioria, não importa mais se sua ideia é certa ou não, basta você ter a maioria do seu lado que ela se torna certa. Isso deriva do falso senso comum de que 99% das pessoas não pode estar errado. De fato eles podem estar errado, como muito comumente estão. Os pais fundadores da América nunca intencionaram entregar o governo ao "povo" ao estabelecerem o modelo de democracia, posteriormente instalado em outros países como o Brasil. É um sistema de democracia representativa, o chamado povo não está completamente inteirado sobre a burocracia do governo para eles serem escravos dele em suas decisões. Essa foi até uma fala do ministro do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito, durante a sessão de decisão se o sistema de cotas é inconstitucional; eles estudaram para exercer aquela função, trabalham com aquilo todos os dias, não devem ser escravos da opinião pública só porque a maioria acha que devia ser assim. E além disso, que opinião pública é essa que devia ser ouvida? Os extremistas conservadores de direita, usando como exemplos o Tea Party nos EUA - com seus membros agindo como deficientes mentais vestidos de George Washington - e a base ruralista e evangélica do congresso brasileiro, ou os de esquerda, como aqueles do movimento de Acampar em frente Wall Street? Na verdade nenhuma. A opinião pública que deve ser ouvida, na concepição atual, é a daquelas pesquisas que aparecem na TV, editadas e manipuladas.

Então da próxima vez que for aplaudir junto com a multidão pense bastante sobre o que eles estão aplaudindo, tenha opinião própria. Ao invés de passar 3 anos e 364 dias reclamando que políticos não ligam para você, só roubam e desviam verbas, pense naquele único dia, no qual você diz "vou apertar qualquer número aqui, afinal político é tudo igual". 

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