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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pai nosso que estais no céu, aí deves ficar


Vamos novamente falar sobre religião e o Estado laico, algumas pessoas nesse país, infelizmente entre essas estão muitos políticos, não conseguem entender esse simples conceito. A bola da vez está com os vereadores de Apucarana no estado do Paraná. Todos os 11 vereadores da cidade votaram a favor de uma lei para instituir a reza do Pai-nosso nas escolas municipais, agora a lei será votada novamente e, se aprovada, encaminhada para a sanção do prefeito.



Autor do projeto de lei, vereador José Airton Araújo
No texto Comer, rezar e nãopagar impostos eu mostrei como a nossa Constituição proíbe todas as esferas do governo brasileiro de promover qualquer religião. Agora o autor do projeto, o vereador José Airton Araújo, defende que o Pai-nosso é uma religião universal e que o cristianismo é predominante na cidade. Primeiro, nem todos os cidadãos da cidade são cristãos, instituir que tal oração seja rezada em um espaço público, principalmente para crianças, estará submetendo essas pessoas não cristãs à vexação, diminuindo suas crenças perante à cristã. Segundo, como crianças não têm opiniões formadas, estão na verdade adquirindo conhecimento a partir do contato com as pessoas e o mundo ao seu redor, o Estado estaria pior do que promovendo o cristianismo, evangelizando as crianças. Essa técnica foi utilizada pelos padres jesuítas para converter os indígenas, começavam a evangelizar pelas crianças. Lembremos que isso foi uma das causas da perda da cultura dos índios.




Isso realmente não importa. Mesmo que todos os cidadãos da cidade fossem cristãos, a constituição proíbe o governo de se misturar com a religião e, diferentemente do que alguns religiosos acreditam, a Constituição é a lei maior do nosso país e não a Bíblia. O que levou o vereador a propor a lei é a violência e o desrespeito dos alunos, o aumento da criminalidade, ele defende que " é preciso que as pessoas se voltem para Deus e isso deve ocorrer já na infância". A arrogância de alguns religiosos de que só pessoas que acreditam em Deus são boas e decentes é irritante. 92% dos brasileiros são cristãos, se esse raciocínio tivesse o mínimo de consistência o Brasil não devia ser uma das nações mais seguras do mundo? E todos os Estados religiosos que estão imersos em guerras? Não estou dizendo que todos ateus são exímios exemplos de seres humanos a serem seguidos, a verdade é  pessoas cometem atos desprezíveis, simplesmente, porque são seres humanos, estão fadados a erros.

Alguns ainda são sensatos o suficiente para serem contrários a essa medida, como o monge Wagner Bronzeri, que percebe a diversidade religiosa da cidade, e diz que os filhos de budistas podem se sentir constrangidos durante a reza e serem, até mesmo, discriminados. A chefe do Núcleo Regional de Educação de Apucarana, Maria Onide Sardinha, diz que, mesmo que a lei seja aprovada, ela não será cumprida. Ela corretamente entende que é mais importante seguir as diretrizes pedagógicas e a Constituição. Em abril uma lei semelhante já foi considerada inconstitucional pelo tribunal de justiça de Ilhéus, na Bahia.

Chegamos a um ponto que não se pode ser contrário a algo que esteja minimamente relacionado a religião sem se tornar um ateu, satanista, sem moral, e sem estar ofendendo a Deus e as pessoas que acreditam nele, isso porque, como todos sabemos, religião não se discute. Se religiosos mantivessem suas superstições sem sentido dentro de suas casas, seus templos e suas mentes; se eles não se considerassem detentores de uma moral superior às das outras pessoas que não compartilham dos seus delírios, religião não precisaria ser discutida. A partir do momento que você traz suas crenças para dentro da câmara dos vereadores e tenta enfiá-las goela a baixo em crianças, você não tem mais o direito de dizer que discutir religião é desrespeitar seu direito a tê-la, porque impor a sua religião às outras pessoas é desrespeitar o direito delas. 

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