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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ciência não é religião

Recentemente na Itália seis cientistas e uma autoridade do governo foram condenados por homicídio culposo, a pena é de seis anos de prisão cada um. O crime de que eles são acusados que é o caso mais inusitado e perturbador, eles são acusados de não avisarem as autoridade sobre um terremoto que atingiu a cidade de Áquila em 2009. Este e outros acontecimentos demonstram como que a ciência está sendo desacreditada e um dos motivos é a falta de entendimento de como ela funciona.

Sabe-se que é impossível prever um terremoto com significativa antecedência para tomar uma atitude defensiva. O terremoto depende de forças internas do planeta, de certa forma imprevisíveis. A promotoria do caso disse que os tremores menores constituiriam um indício de que um terremoto maior poderia acontecer. o que é um absurdo total. É lógico um indício, mas indícios não são provas definitivas, não podem ser usados para prever o futuro. E, por sinal, ciência não é uma previsão precisa do futuro, não é uma bola de cristal. Os cientistas foram claros "não podemos prever se vai haver um terremoto.", o relatório dizia a probabilidade do terremoto acontecer, mas o que as pessoas escutaram foi "não vai acontecer.", o que é bem diferente. E isso tem uma causa muito preocupante, pessoas fora do mundo científico não entendem como os estudos científicos são feitos o que leva a uma crescente descrença neles.

Posso citar outro exemplo recente. No Roda Viva, programa da TV Cultura, dessa semana o convidado foi Marco Paulino, diretor do Datafolha e de imediato ele foi bombardeado com perguntas como "por que as pesquisas não conseguiram prever a eleição de São Paulo?" e "se a pesquisa não pode prever o resultado, para que ela serve?". Isso mostra o desconhecimento geral do significado de uma estatística. E isto, como leva a crer o senso comum, não tem nada a ver com os institutos não entrevistarem todas as pessoas, tem a ver com a natureza móvel das intenções de votos. Todos os dias tem eleitores mudando as intenções de votos, sendo influenciados por discursos dos políticos, matérias na televisão, pesquisas anteriores, enfim muitos fatores alterando a opção das pessoas todo dia. Por fim, há muitos eleitores que decidem o voto na última hora. Portanto, é impensável entender a pesquisa eleitoral como uma previsão precisa do resultado eleitoral. Então, para que ela serve? Para, justamente, mostrar a evolução das opções de voto ao longo do tempo. A pesquisa eleitoral só faz sentido se analisadas em conjunto, dessa análise é possível observar as mudanças e mesmo as causas dessas mudanças.

Pessoas deviam parar de tentar enxergar conceitos científicos através dos olhos da religião. Afirmações científicas não são dogmas imutáveis, além de questionamento, que são, definitivamente, verdades. A base da ciência é a dúvida e o questionamento. Todas as hipóteses e teorias são exaustivamente testadas e constantemente questionadas sobre sua veracidade e precisão. A ciência não muda constantemente de opinião porque está sempre errada. Ela muda constantemente de opinião porque é um efeito natural da evolução do conhecimento. Um exemplo rápido, as pessoas tendem a achar que a teoria de Einstein provou que Newton estava completamente errado, e que Newton provou que o modelo científico anterior estava também completamente errado e que chegará um cientista no futuro que provará que o modelo atual está errado. Esse raciocínio está completamente equivocado em duas maneiras, primeiro, por acreditar que o desenvolvimento científico é feito por únicas pessoas singulares que mudam inesperadamente e drasticamente nosso modo de ver o mundo. Não é verdade. O processo de evolução da ciência é contínuo e gradual. Lógico que há ícones que marcam uma grande mudança, mas eles estão, quase sempre, baseados em várias outras descobertas feitas ao longo do tempo que culminam com a revolucionária mudança de concepção do universo. Segundo, só porque apareceu um novo conceito científico de maneira nenhuma quer dizer que o anterior está errado. O que normalmente acontece é que o velho sistema não se aplica a novas partículas ou novos fenômenos que, à época, não se tinha conhecimento. 

Os motivos que levam tais atitudes são muitos. Um deles é a decadência do sistema educacional, que já não se preocupa em ensinar fundamentos. Saber como o processo científico funciona deveria ser fundamental e, se as pessoas não estão obtendo tal ensino, há algo fundamentalmente errado no processo. Outro problema é a divulgação de pesquisas científicas pela mídia tradicional, cada vez mais categóricas, simplistas e sensacionalistas. Não há aprofundamento, são matérias de título e três parágrafos no máximo. E, principalmente, a disseminação de uma guerra entre religião vs. ciência, como mutuamente exclusivas. Aqui cito declarações como "eu não acredito na evolução.". Isso é completamente impróprio de se dizer e errado. A teoria evolutiva é uma teoria científica e não uma crença, não é para você acreditar ou não dela. Acha que ela está errada? Ótimo, apresente evidências de tal ela poderá ser refutada. Até o momento não há uma evidência, ou uma outra teoria, que explique a diversidade de vida na Terra. E isso vai além de se acreditar ou não nela. Fé é algo pessoal, alguma crença que as pessoas tenham, e, como tal, não pode ser usada para refutar conhecimentos científicos. Não se pode aplicar a Bíblia para desacreditar teses, hipóteses e teorias científicas, porque elas são obtidas por meios diferentes.

Colocar cientistas no banco dos réus por terem falhado em fazer algo que não poderiam fazer é preocupante para o futuro. Aparentemente voltamos à Idade das Trevas (historiadores que não gostam do termo me perdoem) quando queimávamos pessoas com ideias que não compreendíamos ou não aceitávamos. Até alguns anos, apesar da grande maioria das pessoas não entenderem perfeitamente teorias científicas, eles pelo menos respeitavam. As pessoas viam os cientistas como alguém que estudou e possivelmente sabia o que estava falando. Hoje há um desrespeito por tal. Talvez porque a ciência saiu muito do conhecimento natural das pessoas e se tornou complexa demais e, como eu disse, os meios de comunicação não conseguem divulgar adequadamente. É uma época de muita informação e muitos informantes também, alguns falando bobagens, é preciso dar valor e respeito àquilo que merece.

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Religião e Ciência

Neste trabalho, Russell apresenta um estudo dos conflitos entre a ciência e a religião durante quatro séculos. Examinando as explicações nas quais os avanços científicos entraram em conflito com a doutrina cristã ou com as interpretações bíblicas, desde Galileu e a Revolução Copernicana até as descobertas médicas da anestesia e da inoculação, Russell aponta para a reviravolta e reavaliação de sistemas de crenças ao longo da história. Por sua vez, identifica onde existem debates similares entre a ciência moderna e a igreja. A introdução de Michael Ruse traz esses conflitos entre a ciência e a teologia focalizando questões que surgiram depois da Segunda Guerra Mundial.




Escritos sobre ciência e religião

Este livro apresenta três ensaios de Thomas Henry Huxley, naturalista que, além de ter defendido a 'Teoria da Evolução de Darwin' de importantes ataques, teve papel de destaque na vida intelectual inglesa do século XIX, escrevendo sobre muitos assuntos, como Filosofia, educação e religião. Autor polêmico, participou de debates sobre temas delicados, como a relação entre ciência e religião e a origem dos seres humanos.





Quando a ciência encontra a religião
Através dos séculos, e entrando no novo milênio, os cientistas, os teólogos e o público em geral têm compartilhado várias dúvidas a respeito das implicações das descobertas científicas na fé religiosa. O físico nuclear e teólogo Ian Barbour, ganhador em 1999 do Prêmio Templeton para o Progresso da Religião devido ao seu papel pioneiro no avanço dos estudos de religião e ciência, apresenta uma introdução clara e atual a assuntos, idéias e soluções essenciais referentes à relação entre religião e ciência. Numa linguagem simples e direta, Barbour examina os fascinantes temas que iluminam o decisivo encontro das dimensões espirituail e quantitativa da vida.

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