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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Controle de armas, mas quem controla os controladores?

Terça-feira, 12 de fevereiro, foi o dia do State of the Union, um dia em que o presidente dos Estados Unidos discursa perante o Congresso para dar um parecer sobre o estado da nação e sobre seus projetos e planos para o ano. O discurso foi focado em assuntos internos da sociedade americana, como educação, reforma tributária, retorno dos militares, e também falou de assuntos mais polêmicos ainda, como controle de armas.




Antes de analisarmos essas polêmicas alguns trechos do discurso merecem destaque, não porque são de grande relevância internacional, mas porque são bizarros na sua hipocrisia. Em um momento o presidente disse que irá combatar hackers e cyber-terrorismos, que, como sabemos, invadem nossos emails pessoais. Sim, como o FBI invadindo a conta de email do diretor da CIA, terroristas como esses são o verdadeiro perigo para a democracia. Em outro momento ele afirmou que irá se esforçar para impedir que armas nucleares caiam em mão erradas. Bem, até hoje o único país no mundo que usou uma bomba nuclear foram os Estados Unidos. Acredito que as armas nucleares já estejam nas mãos erradas.

Lógico que sabemos quem são as "mãos erradas", o governo do Irã. O discurso do presidente ocorreu no mesmo dia que o mundo era informado do teste nuclear da Coréia do Norte. Não foi um projeto de enriquecimento de urânio, foi um teste de uma bomba. Não defendo que a Coréia faça ameaças tão claras à frágil paz, se não paz pelo menos ordem, mundial. No entanto, quando você está sentado sobre o maior arsenal nuclear do mundo, emitindo sanções a todos os países que tenham o remoto projeto de enriquecimento de urânio. 

Esse controle de armas vai direto ao controle de armas dos cidadãos. O verdadeiro interesse de um governo em desarmar sua população é quando irão implantar uma ditadura. Armas são ferramentas, e como todas as ferramentas são os usos que damos a elas que determinam a maldade dos atos. Claro que armas de fogo são ferramentas para matar, mas você não precisa de uma arma de fogo para matar alguém. O ser humano não precisou de uma por milhões de anos de existência e era perfeitamente capaz de matar uns aos outros. A violência é um reflexo dos valores e conceitos do que é importante para as pessoas, a vida ou bens materiais. Reduzir as causas disso em armas é ser simplista.

Estamos com a tendência de sempre querer encontrar um culpado para o ato violento de alguém, principalmente quando essa pessoa parece-se conosco. Este parecer estou dizendo no sentido de ser do mesmo nível social que nós, frequentar a mesma escola dos filhos e amigos, ir às mesmas festas, ser nosso vizinho. Por exemplo, quando um estudante leva uma arma para a escola e atira nos professores e colegas, temos que achar uma causa para aquele comportamento, porque não podemos viver com a ideia que algumas pessoas simplesmente fogem das mãos do controle social que nos mantém vivendo harmoniosamente em sociedade. Então, para aliviar nossa consciência, culpamos filmes, livros, video games, armas. 

Esses elementos podem ter tido alguma influência no surto que levou a pessoa a cometer o crime, mas - a não ser que essas formas de arte explicita e incisivamente incitem a violência - não há motivos para irmos atrás dessas formas de expressões com tochas e desejo de repressão. As emoções que a arte gera em cada um é única e essas pessoas que cometem atos violentos dizendo-se "influenciadas por ela" são exceções que devem ser contidas isoladamente. Se uma pessoa alega que um livro a levou a matar alguém, como o livro pode ser responsável se outras milhões de pessoas com certeza leram o mesmo livro e não mataram ninguém? Óbvio que restrições de idade, aviso de conteúdo violento, são altamente necessários para avisar o consumidor, mas culpar tais expressões como únicas causadoras de atitudes violentas e, portanto, passíveis de repressão, é ridículo.

Também é evidente que não queremos armas nas mãos de criminosos, ou, para citar novamente Obama, queremos impedir que armas de destruição em massa caiam em mãos erradas. Assim como os Estados Unidos fazem sanções ao Irã e à Coréia do Norte para impedi-los de desenvolverem armas nucleares, e falham consideravelmente, aqui no Brasil temos um Estatuto do Desarmamento, que não impede criminosos de terem acesso a armamento a nível militar. Combate-se o crime é com educação de qualidade, cultura, informação, atitudes que verdadeiramente desestimulam as pessoas a viverem uma vida na criminalidade. Mas para um governo que gosta de medidas paliativas, e algumas vezes até ditatoriais, isso é avançado demais.

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Conheça o projeto de lei do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC):



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