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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sensacionalismo tem punição

Diariamente noticiários sensacionalistas da televisão inundam a nossa mente com os exageros nas informações noticiadas, em clara tentativa de conquistar audiência incitando medo e aproveitando-se do sofrimento das pessoas diante de tragédias. Muitas vezes esquecem-se dos seus deveres para com a verdade e respeito aos telespectadores e interessam-se apenas em manter a audiência com informações impactantes que muitas vezes fogem da missão social dos meios de comunicação e constituem um verdadeiro desrespeito.
"Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e 
televisão atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção
independente que objetive sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística,
conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família".  

Em seu artigo 221 a Constituição Federal de 88 declara os princípios pelos quais as emissoras de rádio e televisão do Brasil devem basear-se para desenvolver sua programação. Atentem para os termos destacados e pensem se os atuais programas televisivos enquadram-se no disposto no artigo. Acredito que não. 

Recentemente a emissora Band foi condenada pelos comentários ofensivos do apresentador José Luiz Datena. As declarações que levaram o apresentador a ser condenado podem ser vistas no vídeo abaixo. Como deixou claro o juiz federal Paulo Cesar Neves Junior em sua decisão os comentários fugiram aos citados princípios que exige-se dos meios de comunicação públicos do Brasil, mas será que apenas esses comentários não enquadram-se neles ou haverão muitos outros?


Perde-se a conta da quantidade de programas vulgares e que não têm função educativa ou informativa nenhuma na televisão brasileira. É um assunto que eu já abordei no texto Televisão e o prazer em ser menosprezado. Não há o interesse em devidamente informar os cidadãos, apenas o interesse de tornar as notícias um espetáculo para ganhar o maior dinheiro possível e o perigo em tal é alto.

Acredito já ter citado aqui neste blog a afirmação de Thomas Jefferson de que a impressa seria o quarto poder no sistema republicano. Os olhos dos cidadãos, que serve para guiá-lo e orientá-lo pelo sistema democrático. Para isso que servem os princípios que regulam esse meio de comunicação. Mas observem a cobertura da imprensa brasileira no caso do incêndio na boate de Santa Maria. Evidentemente foi um caso importante e as pessoas precisavam ser informadas sobre tal, no entanto a abordagem incisiva e a clara utilização do sofrimento das vítimas para chamar atenção são práticas condenáveis das mídias televisivas. Vale mencionar a disseminação de pânico que tais jornalismos causam. A ideia de que o mundo é mais violento do que realmente é; as falsas generalizações que levam à ideia de que todas as boates do país são inseguras ou ainda como a do referido jornalista acima, a generalização de que determinadas pessoas são as responsáveis pelos crimes.

O papel educativo e formador de opinião da mídia, não restrito aqui à mídia televisiva, mas em relação à todas as mídias, é de extrema importância para a formação da cultura de uma sociedade. No entanto, manter a população na obscura ignorância é do interesse dos coronéis que controlam este país até hoje. É comum dizer que vivemos na era da informação, que a internet universalizou o acesso ao conhecimento, mas essa ideia é uma ilusão. Os meios tradicionais de informação ainda exercem uma influência predominante na nossa sociedade e a internet das redes sociais não ajudou melhorar e sim piorou.

Analisem comigo a lógica por trás das redes sociais. Usarei como exemplo prático o Facebook, mas o raciocínio é válido para as demais, já que todas são bastante similares. No Facebook o usuário interage com o conteúdo através das funcionalidades de Curtir, Comentar e Compartilhar os conteúdos, além da possibilidade de criar uma rede de amigos. Pela própria definição do que seja "curtir" o usuário irá interagir com conteúdos que ele goste e concorde. Isso quer dizer que ele não vai receber, ou irá receber em quantidade menor, informações que não sejam as da sua própria opinião. A lógica das redes sociais está gerando pessoas presas dentro de seus próprios mundos, suas próprias bolhas de informação, sem apresentar a elas o mundo como um todo. 

É evidente que a internet não se resume a redes sociais, mas elas espalham-se pelos outros sites da internet e cada vez mais domina o tempo que o usuário passa online. A porta de entrada à internet que emerge um pouco das redes sociais é o Google. Digo um pouco porque o próprio Google agora é uma rede social, Google+. Os resultados de pesquisa no site agora também são personalizados para cada usuário, a partir do sistema de recomendação de páginas, além da criação do perfil do usuário através de navegações anteriores no site. Em uma palestra que assisti uma vez, o palestrante alegou que existem nove maneiras do Google identificar o usuário acessando o site e entregá-lo um resultado de pesquisa personalizado.

Enquanto a televisão distrai as pessoas com conteúdos inúteis e meias informações e a internet coloca as pessoas em bolhas de conhecimento levando-as a acreditar que estão sendo extremamente bem informadas o desenvolvimento cultural do país atrofia. A mídia precisa rever os princípios pelos quais é regida e as pessoas precisam sair dos seus círculos de conteúdos e exporem-se a diversas informações, não só as que "curtem". Lembremos da parábola da caverna de Platão, se passarmos a vida toda acorrentados no fundo de uma caverna olhando para a sua parede, ao sairmos imaginaremos que o mundo exterior é uma mentira.

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